O medo da rejeição atua como um entrave interno, podendo nos ferir e nos dominar. Quando tememos a rejeição, passamos a ser movidos pela constante tentativa de validação do outro, nos colocando sempre à disposição e objetificação - deixamos alguém comandar a nossa vida, como quem troca um objeto de lugar.
Para evitar isso e ter mais controle sobre o seu destino, saber como lidar com a rejeição torna-se importante e pode evitar situações de estresse, ansiedade, baixa autoestima, depressão e até mesmo o desenvolvimento de um complexo de rejeição.
É doloroso ser rejeitado, seja no contexto familiar, amoroso, de amizades ou de trabalho, mas a rejeição precisa ser compreendida como algo que faz parte da vida, afinal, não cabe a nós suprir as expectativas de todos.
Nós mesmos estamos constantemente rejeitando, sejam itens que não nos representam mais, convites para sair, alimentos indesejados, oportunidades que não queremos e pessoas que não nos fazem bem.
Da mesma forma, haverão momentos em que nós seremos rejeitados numa oportunidade de emprego, numa relação amorosa ou em algum lugar que não nos aceita. Dessa forma, fica muito claro como essa dinâmica é algo constante em nosso cotidiano, e o primeiro passo para entender como lidar com a rejeição é deixar de vê-la como algo pessoal, que só acontece com você.
Existem vários mecanismos para entender como funciona ou como lidar com a rejeição. Uma das perspectivas mais conhecidas é a da psicanálise, onde o ser humano não possui controle de tudo que o afeta, dos seus desejos, medos e impulsos. Sua mente é como um iceberg, onde grande parte do todo encontra-se imersa na água.
Toda essa região submersa não é acessada pela razão.
Algumas pessoas entendem o inconsciente como uma outra pessoa, ou uma “entidade” vivendo no interior humano, mas ele é simplesmente o conjunto das nossas emoções mais básicas e de pensamentos que não conseguimos expressar através de palavras. Assim como o seu coração bate e o seu pulmão respira, e eles não são entidades externas, o seu inconsciente trabalha pelos próprios mecanismos, mas ainda é uma parte sua.
Freud, que realizou muitos avanços no estudo do inconsciente, sugeriu o conceito de “ferida narcísica" para explicar que o ser humano é facilmente influenciável e tende a perder o controle racional; além disso, ele possui a facilidade de colocar-se como centro de tudo.
Dessa forma, estamos facilmente sujeitos a ter nosso ego ferido, pois entendemos que as coisas acontecem para nós, e se algo não deu certo, aquilo ocorreu para nos machucar.
Quando o medo da rejeição nos coloca em situação de objeto, que teme ser deixado ou esquecido, percebemos que não ocupamos um lugar de escolhido, único, de centro de tudo. A frustração parte daí, e algumas pessoas lidam com ela fazendo de tudo para agradar a outra pessoa, pois assim acreditam que vão manter seu lugar privilegiado.
Se você está buscando aprender como lidar com a rejeição, pode pensar que, se eu fizer tudo perfeito, ele (ou ela) vai me amar, e lá no fundo existe um sentimento de que esse “amor” é a condição para validar a sua vida. Sem ele, você não sabe quem é.
Quando recorrente, esse medo de sentir-se rejeitado e os comportamentos que ele cria podem atrapalhar a vida social de uma pessoa, pois a mesma sempre estará agindo em função de uma possível rejeição, tornando assim cada vez mais difícil a construção de laços efetivos e duradouros - em outras palavras, ela vive para quem pode rejeitá-la, e rejeita todos os demais.
O medo de ser rejeitado é sim uma condição humana comum. Esse sentimento pode facilmente nos criar a sensação de estarmos doentes, uma vez que o cérebro registra a rejeição da mesma forma que a dor física.
Ademais, quando somos expostos a grandes rejeições, podemos sentir os músculos do coração literalmente enfraquecidos. Daí que surge a famosa expressão “coração partido”.
A razão mais provável para isso é a importância enorme que a vida em sociedade tem para o ser humano. Por muito tempo foi impossível viver sozinho, pois o grupo era a nossa proteção contra outros humanos, animais selvagens, doenças e fome.
As pessoas que não tinham esse sofrimento físico ligado à rejeição poderiam deixar o grupo, e provavelmente acabavam morrendo, dessa forma elas não deixavam descendentes que levassem suas características adiante.
Hoje temos outra forma de viver e socializar, com elementos muito mais sutis do que encontrar comida e escapar de tigres famintos, mas o nosso corpo ainda é o mesmo de antes; e por isso devemos entender como lidar com a rejeição para prosperar nesse novo mundo.
Embora a rejeição seja um sentimento intrínseco do ser humano, o complexo de rejeição não é. O complexo de rejeição é facilmente caracterizado pelo medo de rejeição constante em todas as situações sociais - ou seja, a pessoa já age pensando que está sendo rejeitada, ou que será.
Uma pessoa que sofre com esse complexo está sempre na defensiva, criando um bloqueio para o desenvolvimento das relações afetivas. Ele também pode ser um mecanismo de autossabotagem inconsciente - ela deixa de avançar na vida para não se afastar das pessoas que podem rejeitá-la.
Ao contrário de uma pessoa que sente um medo comum de rejeição, que irá precisar de motivações para sentir ameaçada de uma possível rejeição, a pessoa que sofre com esse complexo não consegue se entregar à possibilidade de expectativas positivas, pois sua crença já está programada para pensar que não merece ser tratada de outra forma se não através da rejeição.
Quer saber mais sobre o assunto? Nós temos um artigo separado explicando o complexo de rejeição em detalhes, e você pode acessá-lo aqui: O que é o complexo de rejeição, e como lidar com ele?
O sentimento de querer sempre ser aceito pode facilmente colocar nossa autoestima em xeque. Isso ocorre porque quando somos rejeitados nos culpamos e responsabilizamos nossa personalidade, conduta, competência, intelecto, aparência, entre outras características que moldam nossa subjetividade.
Nessas circunstâncias, torna-se inevitável aquele sentimento de “o que será que há de errado comigo?” Essa forma de pensar pode ser altamente nociva, pois nos coloca em uma posição de insuficiência. Isso é uma característica muito forte em quem tem baixa autoestima e falta de autoconfiança.
Ademais, a falta de clareza sobre os motivos da rejeição também é uma circunstância que pode impulsionar esse modo autodestrutivo de pensar. Quando uma pessoa ou um grupo rejeita alguém e é franco com ela, deixando transparecer todas as circunstâncias que levaram aquela atitude, ela pode tratar isso de um modo mais racional.
Por outro lado, quando ocorre apenas um afastamento repentino e corte de relações com o intuito de evitar conflitos, a pessoa rejeitada cria um sentimento de algo inacabado e tem mais chances de buscar a causa numa característica dela, o que pode trazer muitos prejuízos emocionais.
Pensando nisso, vale fazer um convite a lidar de forma aberta e saudável com as suas relações, incluindo a maneira como elas terminam. Procure conversar sinceramente com a outra pessoa, e não deixe ela no vazio, afinal nunca sabemos como alguém pode interpretar as nossas ações, ou se machucar por conta delas!
Lidar com a rejeição nem sempre é uma tarefa fácil, mas reconhecer que ela é consequência de expectativas não atendidas nos ajuda a ter clareza e consciência dos comportamentos ou emoções causados por ela.
Converse com a outra pessoa envolvida nas suas aflições. Exponha o que você está sentindo e o que causou aquela situação, na sua perspectiva. Esse é um exercício que exige muita maturidade, por isso não encare-o como um acerto de contas, mas uma tentativa de ter mais clareza e uma chance de aprender com os erros, ou construir uma relação mais saudável.
Se a pessoa não quiser conversar, afaste-se por um tempo. O silêncio dela também é uma resposta - e lembre-se que as atitudes dela falam mais sobre ela do que sobre você.
Não é preciso ficar com raiva porque ela não quis conversar contigo, cada um tem seu tempo e pode ser que no futuro ela te convide para essa conversa; mas é importante que você não viva em função de que esse momento ocorra - dedique-se à sua vida, procure lidar com outros desafios, e se essa conversa vier, será uma ótima surpresa.
Esse pode ser um momento de aprendizado e crescimento pessoal. Reflita sobre as suas próprias ações, afinal elas podem trazer algumas respostas. Muitas vezes as pessoas não nos rejeitam por inteiro, mas rejeitam nossos comportamentos perante elas. É um mecanismo de defesa - quando a sua maneira de agir deixa o outro desconfortável, é instintivo ele se afastar.
Buscar esse tipo de autoconhecimento, passando a reconhecer e trabalhar nossas falhas na forma de lidar com os demais, diminui as chances de sermos rejeitados e ajuda a construir relações melhores para todas as partes.
Vale lembrar que nem toda rejeição é carregada por um defeito pessoal, essa pode ser apenas uma das diversas motivações!
A ideia não é passar meses tentando descobrir o que há de errado com você, apenas olhar com calma para a situação e descobrir se há outras formas de agir. A conversa, mais uma vez, pode ser uma boa ferramenta, dando ao outro a oportunidade para explicar as próprias ações.
Você só será capaz de lidar com a rejeição se aceita-lá. Diferentemente do que muitos pensam, aceitar a realidade não é silenciar-se em relação ao que causou mal ou fingir que nada aconteceu. A aceitação é um processo de nos conceder a permissão para seguir em frente, deixando as dores e traumas para trás, e ressignificando a sua forma de pensar naquilo.
A vida continua; por isso continue fazendo coisas que gosta e eram comuns no seu cotidiano. Uma boa dica também é se abrir para novas experiências - viagens, cursos, convites - afastando o tédio e os pensamentos negativos.
Ademais, meditações, prática de exercícios físicos e atividades manuais são ótimas distrações que podem te ajudar a controlar pensamentos ruins - elas são recursos para lidar com a frustração, mas também se aplicam em outras situações como ansiedade e falta de concentração, por exemplo.
Lembre-se: uma rejeição não define quem você é, ou caminhos que você deverá seguir a partir dela. Use esse momento para ficar mais forte e centrado, cuidar de você e aprender coisas novas!
Lembre-se: você está em constante mudança. Quem você já foi não traduz quem você é hoje e certamente não representa quem você daqui há algum tempo.
Valorize as suas qualidades - um bom exercício é listar o que você gosta em si, e não depende de outras pessoas. Dê presentes a si mesmo, não para silenciar o vazio, mas para verdadeiramente demonstrar carinho por quem você é. Vá passear sozinho, cuide bem do seu corpo e da sua mente.
Essa afirmação do próprio valor te impede de cair na autodesvalorização e buscar validação nas atitudes das outras pessoas!
Pare de focar no medo do abandono. Você não tem o dom de prever o futuro e saber se pessoas vão te rejeitar ou não, por isso, viva, interaja, se entregue por completo. O outro não sabe seus traumas, não tem conhecimento do seu passado, portanto, não transpareça nas suas atitudes o medo que você tem de perdê-lo.
Quando deixamos o medo da rejeição nos perseguir, passamos a acreditar que não somos merecedores de nada em nossas vidas, e podemos até destruir a relação por não dar valor a nós mesmos ou à outra pessoa (se você está sempre buscando a validação dela, talvez não esteja admirando profundamente as qualidades que ela possui!).
Não deixe que esses pensamentos cerquem você ou controlem as suas atitudes. O medo é uma dominadora, e viver cercado por ele é insustentável - as coisas saem do caminho por falta de equilíbrio!
Na dúvida, lembre-se de como devemos atrair as borboletas: não é correndo atrás delas, mas cultivando um belo jardim para que elas venham até você!