Educar crianças não é uma tarefa fácil. Sempre buscamos o melhor para os nossos filhos, dessa forma, muitas vezes acabamos cedendo aos seus desejos, na tentativa de lhes proporcionar as melhores experiências, e, consequentemente, a ausência de traumas.
O ato de dizer não ainda é visto como algo negativo, uma falta de amor, visão que é contrária à sua importância para um desenvolvimento saudável da criança. Se a criança pede um sorvete próximo ao horário do almoço, você sabe que aquele doce irá interferir no apetite da criança e ela não fará uma refeição nutritiva, mas com o receio de deixá-la infeliz, acaba abrindo mão.
É aí que mora o perigo!
Muitos podem pensar que é apenas um sorvete e não irá interferir tanto assim uma vez ou outra. Entretanto, o “não” na infância pode preparar a criança para um desenvolvimento rico em inteligência emocional e resiliência.
Para os pais é difícil ver os pequenos aos choros, frustrados e com birras. A possibilidade de uma frustração sempre gera nos pais o receio e a pergunta: será que eu deveria ceder?
Todavia, nós adultos passamos por momentos de frustrações diariamente e em diversos contextos. É uma realidade inevitável, todos em algum momento precisamos lidar com elas.
Dessa forma, porque não introduzir esses ensinamentos desde dos primeiros anos de vida? Os pequenos irão adquirir a consciência de que o imediatismo não existe, e que situações contrárias às suas expectativas são parte da realidade. Essa habilidade atua como prevenção de traumas e melhora a tomada de decisão em situações diversas.
Ademais, uma criança que foi preparada para lidar com situações de frustração torna-se um adulto com um alto grau de tolerância, capacidade de enfrentamento de situações de desconforto, além de ser uma pessoa mais grata, por enxergar possibilidade tanto em acontecimentos ruins, como bons.
As crianças mais pequenas não entendem o significado da palavra não, e compreendem como um ato de desaprovação dos pais. Aos poucos, quando já aprenderam a falar, as crianças compreendem a palavra à medida que os pais a utilizam como forma de expressar que existem regras.
Esse processo não acontece da noite pro dia. Sempre que possível, mostre e expresse os motivos pelo qual você está utilizando aquela expressão - exemplos práticos e reais são uma boa opção de introduzir significação e sentido à palavra.
Vale lembrar também que o “não” nos primeiros anos de vida tem ligação direta com a entoação e gesticulação; por isso evite usar de uma linguagem agressiva, valorizando sempre o porquê, as consequências e as alternativas disponíveis em relação ao que você negou.
Essa prática previne que a palavra seja carregada com o significado de algo ruim, como proibição, anulação de desejos e desamor, e faz ela ser apenas mais uma situação no dia a dia.
Vivemos em sociedade, e, consequentemente temos regras que devem ser seguidas. Crianças sem limites possuem muita dificuldade em relacionamentos sociais, principalmente por não conseguir respeitar as vontades e desejos dos outros.
Ademais, elas apresentam bastante dificuldade em lidar com perdas, se frustram com facilidade e são extremamente competitivas. Essas dificuldades vão atingir a vida adulta, atrapalhando suas relações sociais e a relação consigo mesmas.
A rejeição numa entrevista de emprego, um trabalho da faculdade mal sucedido ou a falta de correspondência afetiva podem despertar comportamentos inadequados e de negação aos fatos, como agressividade, tristeza e incapacidade para lidar com os problemas.
Dessa forma, o contato com o não estimula a criança a encontrar novas possibilidades para lidar com aquela situação, aumentando o contato interpessoal e a capacidade de enfrentar as situações, consequentemente, aumentando sua autonomia.
Primeiramente, a criança entende, aos poucos, a significação do não, então ao falar da maneira correta você será compreendido. Dessa forma, não há nenhuma restrição ao seu uso nos primeiros anos de vida.
Segundo, quando não falamos não desde cedo, a criança irá se acostumar a viver de uma certa forma, com princípios, costumes e limites. Se elas crescem longe do “não” e são apresentadas a outras possibilidades, você terá que lidar com uma resistência maior e a consequente rebeldia desse adolescente.
Portanto, seus princípios, desejos e limites devem ser expressados desde os primeiros anos de vida, para que se construa uma base sólida de personalidade.
Saiba dosar o não: Quando generalizamos o ato de dizer não, seja por uma super proteção ou receio de que algo ruim possa acontecer, acomodamos nossos filhos a não tomarem decisões sozinhos e criamos um certo afastamento deles conosco, afinal, ele sempre vai achar que você dirá não, então fará sem te perguntar.
O não deve ser posto somente quando a criança apresentar um comportamento inadequado, como birra, agressividade, desrespeito, ou em situações de perigo. É de extrema importância que essas ações sejam realizadas de forma coerente. É pouco proveitoso eu dizer “não” para uma determinada situação e não esclarecer a decisão com argumentos.
Além disso, quando decidimos sempre o destino do nosso filho, prejudicamos seu desenvolvimento e autonomia. Dessa forma, sempre que possível, deixe-o correr risco ou escolher, mesmo em tarefas simples como escolher uma roupa ou a forma de fazer um desenho. São pequenas atividades que exercitam a criatividade, tomada de decisão e autonomia.
Fale sempre com calma e use argumentos: Um erro comum ao dizer não é usar a palavra como uma ferramenta de autoridade. Sempre tenha conversas esclarecedoras e pontue os motivos pelos quais a criança não poderá ter certa atitude.
Parar e estabelecer essa conversa promove maior equilíbrio emocional na criança, além de aumentar sua compreensão em relação ao acontecido e, consequentemente, evita que vocês tenham um conflito; afinal, ela já sabe todos os porquês daquilo não ser possível.
Erros em momentos de adrenalina acontecem, como por exemplo ao ver crianças em situações de perigo. Nosso instinto natural vai agir de forma mais agressiva, mas após o susto sempre vale sentar e ter uma conversa mais calma.
Deixe a criança participar da decisão e use seus argumentos: Possuímos o hábito de calar as crianças de forma involuntária; afinal “somos adultos e sabemos o que é melhor para elas”.
Se você pensa dessa forma, saiba que essa visão está totalmente equivocada. Os pequenos devem sim ter voz e falar por si. Sempre deixe a criança expressar suas vontades e motivações que a fazem querer determinada coisa. Você não precisa concordar, mas é importante ouvir.
Sempre que possível faça um acordo, pois além de fazê-lo se sentir participante daquela decisão, isso irá criar um senso de responsabilidade, uma vez que ele terá que cumprir com o trato.
Jamais volte atrás da sua decisão: Muitas vezes nossa negação vem carregada de choro e birra por parte das crianças. Nesse momento muitos pais acabam voltando atrás por pena dos pequenos ou por não estarem prontos para lidar com a situação no momento.
É de extrema importância que você tenha firmeza na sua decisão. Entenda que uma hora o choro irá passar e sua atitude em negar foi necessária para o melhor para seu filho. Os pequenos são espertos, e na medida em que você volta atrás quando eles choram, eles vão usar isso contra você, fazendo com que as birras sejam sempre frequentes quando ouvirem um não.
Portanto, nada de se culpar, você é a mãe ou o pai e sabe a melhor decisão para ele.
O ato de falar “não” é uma prova de amor. Crianças que escutam o “não” possuem limites, maior desenvolvimento emocional, capacidade de tomar decisões e autonomia. Filhos que ouvem “não” possuem maiores capacidade de lidar com os desafios da vida adulta, sem frustrações e sem passar por cima de ninguém.