Ao contrário do que muitas pessoas pensam, podemos viver em um relacionamento abusivo por anos sem nunca ter sofrido quaisquer tipos de agressão física. Entretanto, isso não significa que não há a existência de um abuso psicológico.
O relacionamento abusivo é uma possibilidade à qual todos nós estamos sujeitos - pessoas bem resolvidas, inteligentes, bonitas e independentes financeiramente podem se encontrar como vítimas dessa relação.
É importante rompermos logo de cara o estereótipo de que apenas pessoas vulneráveis e ignorantes vão cair em um relacionamento como este.
Alguém próximo a você, ou até mesmo você pode estar vivendo dentro de um relacionamento abusivo, mas ainda não enxerga a situação em uma perspectiva mais ampla. Preparamos, portanto, um guia completo de como identificar um relacionamento abusivo, indo além de aspectos óbvios, como agressões e xingamentos.
Caracterizado principalmente por abusos físicos e emocionais, o relacionamento abusivo é uma ferramenta de poder usada para controlar e abusar o outro. Identificar-se dentro de uma relação como essa não é uma tarefa fácil, pois nem sempre ela virá acompanhada de agressões físicas.
A maioria dos abusos ocorrem na forma de violência psicológica e pequenas proibições, passando muitas vezes despercebidos, uma vez que muitas pessoas só enxergam a agressão física como uma forma de violência.
A longo prazo, esse tipo de relacionamento pode ser altamente destrutivo para quem nele vive, pois causa diversos efeitos na saúde psíquica da vítima: depressão, ansiedade, fobias e baixa autoestima são as consequências mais comuns.
Vale lembrar que se você é mulher e está vivendo um relacionamento abusivo que apresente ameaça à sua vida, disque 180 antes mesmo de buscar ajuda terapêutica. Sua vida importa, não se sinta coagida ou culpada por pedir ajuda!
O primeiro passo para sair desse tipo de relacionamento é entender como ele se manifesta e sua complexidade. Já vimos que a agressão física não é a única forma de violência, que também se apresenta como psicológica, sexual, moral e patrimonial. Todas essas formas caracterizam um relacionamento abusivo.
Muitas vezes a vítima pode não se enxergar nesse tipo de relacionamento por não entender a dinâmica dele, em outros casos acredita que não há uma saída ou espera uma possível mudança por parte do abusador, uma vez que manipulação e excesso de promessas são uma característica muito comum de pessoas com perfis abusivos.
O fato é que, para se livrar desse tipo de relacionamento, é preciso entender como ele funciona para enxergar até que ponto você ou alguém próximo está vivendo. Baseado nisso, separamos aqui algumas características muito comuns dentro desse tipo de relacionamento que vão te ajudar.
Controle: Todo casal apaixonado utiliza declarações para demonstrar seus sentimentos; entretanto, em um relacionamento abusivo esse mecanismo é utilizado como forma de desviar a atenção dos abusos.
Uma pequena proibição de uma roupa, saída com amigas, corte de cabelo, seguida de um “eu faço isso porque te amo demais” ou “eu tenho medo que algo de ruim te aconteça”, pode ser um exemplo de uma falsa declaração.
Outra forma de controlar muito comum é pela análise excessiva da vida social, fiscalizando mensagens de celular, redes sociais e emails. A pessoa sempre usa como desculpa “quem ama não esconde nada” ou “ casal tem que compartilhar tudo mesmo”.
O abusador pode ser extremamente romântico, colocando a pessoa num pedestal, alimentando sua autoestima, na intenção de manipular. Afinal, como desconfiar que todo o cuidado é na verdade um abuso psicológico? Facilmente a própria pessoa começa a se sentir culpada por não cumprir com as expectativas do parceiro, uma vez que ele “só age em função do seu bem estar”.
Isolamento: A outra pessoa acredita que você seja propriedade dela. Na tentativa de te afastar dos demais, cria situações inexistentes de que seus amigos estão te paquerando, ou acusa suas amizades de serem má influência para você, e também busca meios de te afastar da sua família, uma vez que é sua maior rede de apoio e a primeira a perceber os sinais de abuso.
Esse afastamento atua como uma forma de criar dependência emocional, tendo em vista que ele será a única pessoa por perto, te fazendo acreditar que não pode contar com mais ninguém, ou receber o amor de outras pessoas.
Dessa forma a vítima fica totalmente dependente do abusador, assegurando a ele toda a sua disponibilidade social e emocional.
Diminuição: Um parceiro abusador não consegue ver sua vítima passando por momentos de felicidade. Ele é movido pela insuficiência e ingratidão, e as conquistas do seu parceiro nunca serão motivo para sua felicidade. Muito pelo contrário, ele precisa ter sempre o controle de tudo e se sentir superior, para que isso aconteça ele está constantemente diminuindo e humilhando seu cônjuge. Essa forma de agressão pode facilmente vir com xingamentos.
O objetivo do abusador é destruir a autoestima da outra pessoa na tentativa de impedir que ela tome suas próprias decisões. Na medida em que ela não acredita em si e no seu potencial, acredita ser impossível prosperar sem o parceiro, ficando cada vez mais presa dentro desse relacionamento.
Quer te mudar: Uma característica muito comum nesse tipo de relacionamento é a imposição de mudanças, que podem ser sutis, ou não.
Não são críticas construtivas, pelas quais a pessoa com quem você divide a vida pode te sugerir novos hábitos por meio de um diálogo franco ou te apoiar para explorar novos gostos que te levem ao crescimento pessoal.
No relacionamento abusivo, essas sugestão de mudanças são de tom moralista, baseadas no que o outro quer e acha melhor pela visão dele, podendo até causar desconforto e sentimento de inferioridade.
- Olha como você era magra assim que casamos, você poderia ficar assim novamente, não?
- Você engordou bastante desde de que nos casamos, deveria emagrecer, dessa forma você está horrível!
Repare que são duas frases com tons totalmente diferentes, mas ambas vão coagir ao desejo de emagrecer ou se sentir mal com seu corpo. No primeiro exemplo, o abuso fica mais sutil pelo uso das palavras, e se torna mais difícil de ser percebido.
É claro que um corpo saudável, além do estético, por exemplo, é uma mudança positiva. Entre várias outras mudanças que podem ser sugeridas a nós, independente do tom da sugestão, analise o quanto aquilo te conforta, te deixa mais seguro de si e te ajuda a crescer.
Ademais, fuja de mudanças que anulam seus desejos e vontades. Sempre que estiver diante de uma proposta de mudança pergunte-se sempre se ela é construtiva para você, como reflete em seus valores, desejos e crescimento pessoal.
Agressividade: Violência psicológica e física são recorrentes nesse tipo de relacionamento. Ela não ocorre da noite para o dia; um relacionamento moldado de carinhos, elogios e afeto, aos poucos vai dando espaço para críticas, agressões e xingamentos.
A relação é como uma gangorra, ora o parceiro está carinhoso, ora cria momentos de terror. Nem sempre a agressão vem de forma clara, com tapas e suas variações, mas pode ser feita de forma sutil e no início é “justificada” por momentos de estresse ou por consumo de bebida alcoólica.
Em seguida, o agressor demonstra arrependimento, promete que não fará mais, com juras e promessas de amor, criando um ciclo sem fim.
De acordo com a ONU, as mulheres são as principais vítimas desse tipo de relacionamento, com uma em cada três passando por ele. Todavia, vale lembrar que essas atitudes podem ocorrer com qualquer pessoa, independentemente de gênero, idade ou lugar.
Na maioria dos casos as consequências desse tipo de relacionamento são muito semelhantes. A mais comum é a vítima passar a ser refém do medo, temendo sofrer algo maior e se sentindo impossibilitada de sair da relação.
Ademais, os abusos psicológicos podem distorcer a realidade, fazendo com que a vítima se culpe pela situação. Esse sentimento dificulta ela perceber-se dentro de uma relação abusiva.
Na teoria, sair de um relacionamento como esses parece uma tarefa super simples, mas na prática não é. Quem olha de fora consegue visualizar os defeitos e articular soluções com mais facilidade de quem está dentro, entretanto, cobrar praticidade e clareza de uma pessoa que está sendo abusada psicologicamente ou fisicamente não é fácil.
Quando alguém enfrenta esse tipo de situação, e já possuía sentimentos de afeto pelo agressor, é como se metade da sua consciência percebesse a situação tóxica, enquanto a outra metade sempre busca justificar as atitudes e ter esperanças de que vale a pena continuar, para recuperar aquele passado de carinho. São como dois olhos, um que olha a razão, outro a emoção.
Seu lado racional irá tentar te alertar que a situação é destrutiva, enquanto a negação não permitirá enxergar as amarras, com pensamentos do tipo “ele não pode ser essa pessoa, sinto que ele me ama.” Mas a realidade é que a negação é o medo de enxergar que existe uma coisa maior que irá causar uma grande decepção, agindo como um mecanismo de defesa do cérebro.
Geralmente a vítima se apropria da culpa pela situação, afinal, o sentimento que ela tem é o de estar sendo injusta com alguém que só quer amar-la e que faz tudo aquilo porque se importa com ela. Quando cai a ficha de que estamos em um relacionamento abusivo, precisamos de apoio para lidar com as consequências e força para conseguir andar em direção à liberdade.
Dessa forma, procurar ajuda profissional e cercar-se de todo apoio possível - família, amizades e trabalho, por exemplo - torna-se imprescindível para conseguir uma libertação saudável e uma recuperação dos prejuízos psíquicos longe dos traumas, uma vez que uma saída conturbada desse tipo de relacionamento ainda pode criar uma tendência a se envolver em outros.
Relações abusivas estão em diversos ambientes, seja de trabalho, familiar, amorosos, amizades, etc. Se o relacionamento é manifestado com abuso de poder, manipulação, controle de liberdade, punição, chantagem, violência psicológica, manipulação e agressão física, já pode ser considerado uma relação abusiva.
A hipnoterapia irá te guiar para o processo de clareza e ressignificação. Clareza, primeiramente para te fazer compreender, que sim, você está vivendo um relacionamento abusivo, e o que aquela pessoa sente por você não é amor, mas manipulação, abuso e anulação.
Ressignificação, para dar novo sentido à sua forma de relacionar-se, entendendo que você precisa estar com alguém que te valorize, ame, respeite seu espaço e jeito de ser. Ademais, entender que as coisa pelas quais você passou não são responsabilidade sua, não estavam sob seu controle e agora você tem o poder de mudá-las para criar uma nova história de vida.
Dessa forma, você irá mudar, por meio do processo terapêutico, seu estado de hipnose, entendendo que você não é definida pelo que já viveu, e merece receber amor. A mudança não ocorre do dia para noite, a cura terapêutica é um processo de autoconhecimento constante.